“7 Vidas” não é exatamente um funk. Ou pelo menos não exatamente um funk muito convencional. Grudento e cheio de ganchos estratégicos, a faixa do paulista Mc Bó do Catarina passeia com facilidade entre o R&B moroso de ordem sentimental, e o pop ágil de progressão intensa e sempre direta. Toda essa propriedade emocional da música, que divaga sobre jovens amigos do cantor que perderam a vida em sua comunidade, dialoga muitíssimo bem com esse andamento astuto, ainda que no final das contas a faixa seja de fato bastante melancólica. Porque mesmo nesse clima dançante e até um pouco festivo, impossível ignorar a letra marcada e emotiva, de refrão sugestivo – “Quero sete vidas / Quero uma revanche” – refletindo o remorso que provavelmente assola alguns jovens dessas comunidades. Com um vocal apelativo e levemente esganiçado, Bó do Catarina parece se entregar de corpo e alma nesse contexto afetuoso, não muito comum ao gênero. Seu mais famoso hit, “Vida loka também ama“, é outra digressão sentimental em formato de funk meloso, um manifesto amoroso em que, novamente, o artista destila seu engenhoso pop com outra letra tão inspiradora como essa.
Aliando a agressividade das batidas do funk com canções de um teor altamente emocional, Mc Bó do Catarina me parece uma espécie de cantor popular que se utiliza da inocência e do remorso de muitas situações do seu cotidiano para criar faixas que desafiam nossa noção de gênero. Recusando, de alguma maneira, a tradição do proibidão ou de outros subgêneros mais populares do funk que fazem tanto sucesso em bailes e festas. Nesse artigo no Dutty Artz, escrito por uma morada da Rocinha, é levantada a questão da pirataria e especialmente do compartilhamento de arquivos, muitas vezes a única e melhor saída para trabalhos como esse. E que, claro, possibilita nossa feliz descoberta de faixas como essa. (Arthur Tuoto)
Ouça aqui “7 Vidas”
eu so mlk doido tbm inspirado no mc bo do catarina
lindo